Em artigo de opinião publicado no Dinheiro Vivo, Nuno Marques Silva, Partner da Neves de Almeida HR Consulting, fala do impacto das novas tecnologias nos processos de recrutamento.
2021 já vai a meio, e é evidente que vivemos uma alteração profunda na forma como trabalhamos. Graças à covid-19, hoje somos muito mais digitais do que éramos em 2019. A gestão, recrutamento e retenção de pessoas tornou-se num desafio ainda maior para as empresas, recrutadores e candidatos, pois todos tivemos de nos adaptar, num curto espaço temporal a esta nova experiência remota. Em concreto, independente do setor, dos serviços à indústria, esta pandemia veio obrigar as organizações a mudarem a forma como operacionalizam o seu processo de recrutamento. Mas estaremos a reagir temporariamente, até que tudo regresse ao que conhecíamos pré-pandemia, ou vivemos realmente uma mudança sem retorno?
No imediato, substituímos as entrevistas presenciais por entrevistas on-line nas mais variadas plataformas disponíveis. Foi a forma mais rápida para ultrapassarmos as limitações do confinamento. Contudo, foi este pequeno/ grande passo, que permitiu quebrar uma barreira e alertar para a mudança de paradigma que tem estado a ocorrer no processo de recrutamento.
Observamos atualmente uma tendência de algumas organizações para o recurso a soluções de automatização de processos de recrutamento, tais como modelos preditivos, uso da Inteligência Artificial, assessments digitais, entrevistas robotizadas para triagens iniciais, entre outros.
O próprio trabalho remoto, que muitos de nós nunca tínhamos experienciado, mudou a forma como o recrutador faz o search, e a seleção de candidatos, alargando o leque de competências valorizadas. Esta nova forma de trabalho (total ou parcial), que é já uma realidade para muitas empresas, seja por ausência de infraestruturas físicas, ou por abrangência global, veio acelerar definitivamente o crescimento das novas tecnologias de recrutamento, com benefícios claros na pesquisa de candidatos globais, qualidade na triagem inicial e otimização de tempo, agilizando o processo de identificação dos profissionais.
Hoje é comum, por exemplo uma empresa norte-americana na área das tecnologias da informação contratar um programador português, e este não ter de se mudar para os EUA, trabalhando a partir da sua casa em Portugal. Citei o exemplo de um programador, mas há outras profissões que se irão globalizar. Sem darmos por isso, a profissão do próprio recrutador é já hoje em dia cada vez mais global. Este fenómeno, tem até vindo a aumentar a competitividade entre empresas, na luta pelos melhores talentos, com uma consequência óbvia na pressão sobre as remunerações.
Espera-nos, sem dúvida, um mundo de oportunidades, mas não creio que a profissão de recrutador venha a ser substituída pela crescente digitalização, automatização e robotização. Não acredito que traga desumanização ao processo, antes pelo contrário. O uso das tecnologias ajudará a reduzir as tarefas repetitivas e monótonas, tais como pesquisa e triagens iniciais, permitindo maior disponibilidade do recrutador para questões verdadeiramente determinantes, nomeadamente a análise de human-skills, a empatia, inteligência emocional, pensamento critico, alinhamento com a cultura e estratégia da organização, criação de conexões personalizadas com os candidatos, entre outras. Quanto mais exigente for a função, como p. ex.: funções executivas e com cargos de liderança, maior importância será dada ao lado mais humano das entrevistas e claro, a senioridade do recrutador, nomeadamente no Executive Search, marcará certamente toda a diferença, tornando impossível esta interação ser replicada artificialmente.
Convido os leitores a acederem ao seguinte site: https://willrobotstakemyjob.com/ para perceberem qual a probabilidade de os robots, virem a substituir as vossas profissões.
Respondendo à questão colocada no primeiro parágrafo, esta mudança não é temporária, e veio seguramente para ficar!
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